quarta-feira, 8 de abril de 2009

Gaiolas...

Gaiolas


Há as feitas com ferro e cadeados. Mas as mais sutis são feitas com desejos. Esquisito o que vou dizer: a alma é uma biblioteca. Nela se encontram as estórias que amamos. Romeu e Julieta, Abelardo e Heloisa, Luiz e Ivani, O paciente inglês, As pontes do Madison, Amor nos tempos do cólera, A menina e o pássaro encantado.

As estórias que amamos revelam a forma do nosso desejo.
Delas, escolhemos uma. É a nossa gaiola. Gaiola na mão, saímos pela vida à procura do nosso pássaro. Quando imaginamos havê-lo encontrado...que felicidade! Ficará feliz em nossa gaiola. Será o amante da nossa estória de amor: eu para você, você para mim... Nós o colocamos lá dentro e pedimos que nos cante canções de amor. Acontece que o pássaro também tinha a sua
estória. E era outra. Todo pássaro deseja voar. Ele bate suas asas contra as grades, suas penas perdem as cores e o seu canto se transforma em choro. E, de repente, ele se transforma. Não mais o reconhecemos. É um outro. Essa é a razão por que a dor da paixão satisfeita é muito maior.
Contada assim, a estória parece ter um vilão e uma vítima. A verdade é que os dois são vilões, os dois são vítimas. O desejo da gente é sempre engaiolar o outro e levá-lo pelos caminhos que são nossos. Isto vale para todos: marido-mulher, pai-filha, mãe-filho, patrão-empregado, professor-aluno... Não admira que Sartre tenha dito que: "O inferno são os outros". Não haverá uma saída?
Lembro-me de um pequeno poema de Pearls, que sugere a possibilidade de uma relação sem gaiolas:
Eu sou eu.
Você é você.
Eu não estou neste mundo para atender às suas expectativas.
E você não está neste mundo para atender às minhas.
Eu faço a minha coisa.
Você faz a sua.
E quando nos encontramos...
É muito bom....

( Autor desconhecido )

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